segunda-feira, outubro 23, 2006

Estória que eu odeio contar por que é mais uma daquelas que quem ouve jamais esquece.

Às vezes é bom não saber

 

Cláudia acordou e não se moveu, apenas abriu os olhos. Observou o teto e o lustre, percebeu não conhecer o local. Estava nua. Completamente nua. Não reconheceu nem mesmo o fino lençol que a cobria. Sentou na beira da cama. Sentiu mareada. Tonta. Apoiou as mãos no colchão, tonteou ainda mais, estava fraca. Nua.

Deus do céu! Não conhecia mesmo o quarto onde acordara, completamente nua. Fez um esforço tremendo pra lembrar o que aconteceu. Lembrava-se que estava na festa de fim de ano na América do Sul, empresa onde trabalhava. Putisgrila era uma festa de caraoquê, ela detestava! Mas era a festa de fim de ano, saiu de casa decidida, liberada. Conversou bastante, dançou e bebeu smirnoff. Smirnoff! Várias garrafinhas.

Não lembra de mais nada da noite passada se não as várias garrafinhas de smirnoff. Reuniu todas suas forças nos braços e pulso para assim levantar. Percebeu um volume pressionando os dentes no fundo da boca. Levou a mão até lá e com a ponta dos dedos retirou um pedaço de pano que incomodava. – Maldita smirnoff! – Jesus Cristo! O que será que aconteceu?

Levantou num supetão. Pendia para os lados. Olhou ao redor.  Realmente não conhecia aquele recinto. Era bonito, porém desconhecido. Saiu a pressas procurando suas roupas. Encontrou a saia no chão perto a porta. A calcinha se equilibrava em cima do abajur do corredor. Achou a blusa toda amarrotada e um pé do sapato alto – Smirnoff nunca mais.

Andou pelo corredor. Onde ela estava meu Deus? Não conhecia mesmo. Adentrou a cozinha, viu estar num apartamento. A mesa posta. Impecável. Pães, frutas, presunto, queijo, café, leite e manteiga. As perguntas bombardeavam sua mente: – onde estou, meu Deus?, quando viu um buquê de rosas e um bilhete em baixo do pote de manteiga que dizia:

"Bom dia, muito obrigado por ter proporcionado a noite mais louca da minha vida. Beijos, H."

Agá? Quem poderia ser agá? Avestruz, ela não conhecia ninhuém com nome iniciado em agá. Seria Hélio? Ou pior, Haloízio, com agá e zê. Ai meu Deus! Não comeu nada e saiu correndo pela sala, mancando por ter calçado apenas um pé do sapato. Olhou em volta na rua pra saber onde estava. Desesperada. Por sorte havia um ponto de táxi próximo. Tomou um táxi para casa, antes perguntou: – Que bairro é esse motorista? – Esta no Riacho Fundo 1. Soltou um Putaqueupariu!, já que não conhecia ninguém praquelas bandas.

Cláudia chegou em casa na hora do almoço, tomou um banho, comeu e passou o resto do domingo tentando lembrar como acordou naquele lugar. Quem poderia ser agá? Antes de dormir jurou que nunca mais ia tomar um porre, principalmente de Smirnoff.

Na segunda, logo quando adentrou o escritório da produtora, percebeu que os motobóis e entregadores cochichavam em volta da máquina de xerox e pararam logo que perceberam a presença dela. Caminhou ereta, com sutileza até sua sala. As meninas do setor mediam Cláudia dos pés lindos e pequenos aos cabelos lisos e sedosos. Nunca mais bebo Smirnoff. – pensou.

Antes mesmo de ligar o computador, Padoka, o maior produtor, o galã, o bonitão, o mais cobiçado de todos, escorregou sob sua mesa um Serenata de Amor e propôs um convite após um comentário:

– Você é mesmo demais! Uma mulher de coragem. Aceita almoçar comigo hoje?

Não podia ser! O Padoka, aquele bonitão, o mais mais da produtora. As outras olharam novamente, pensando no que aconteceu. Cláudia ficou nas nuvens, ligou o computador e antes que pudesse abrir qualquer programa, o telefone de sua mesa tocou, era da sala do Marcos o Diretor geral da empresa.

– O Sr. Marcos quer vê-la imediatamente. – Ordenou a secretária.

Caminhou pelo corredor com os peitos fartos e estufados com todo seu orgulho, ainda sentindo as emoções daquele pedido feito pelo Padoka. Aproximou da sala do chefe. A secretária, prestativa, abriu a porta da sala do Marcos e anunciou sua chegada. Marcos a esperava de pé.

– Faça a gentileza de entrar, dona Cláuda. Sente-se. – apontou uma cadeira. – Gostaria de gratificá-la com aquela promoção que me pedira anteriormente. Ela é sua.

Antes que Cláudia pudesse agradecer, ele continuou:

– Além da promoção quero lhe oferecer mais 50% de aumento integral. Ah. Gostei mundo do que fez na festa da empresa, continue assim! Não falte na festa da Direção Geral, por favor. Bom dia dona Cláudia.

Ela se levantou e caminhou sob o olhar maldoso cheio de inveja projetado pela secretária. Saiu porta afora e entrou em sua sala lentamente e serpenteando para exibir suas belas curvas

Sentada em sua cadeira pensou na soma da promoção recebida mais 50%. Lembrou do convite de Padoka. Sorriu. Sorriu outra vez e disse pra si mesma:

– Vou mesmo nessa festa da direção. Vou beber muitas, muitas garrafas de smirnoff!

 

Thiago Moskito

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