quinta-feira, novembro 23, 2006

“Veja” acha que editar e manipular fotos são sinônimos

"Veja" admitiu, em sua edição nº 1982, que as duas fotos que estampou na edição anterior, à guisa de comprovar a "manipulação stalinista", foram tiradas em momentos diferentes, conforme registramos aqui no HP, o que equivale na prática ao reconhecimento da incompetência e má-fé do editor responsável pela "barriga" - ou, mais precisamente, pela "manipulação".

Apresentou, no entanto, outro par de fotos correspondentes ao mesmo evento, que segundo ela confirmaria a sua tese.

Todos os que conhecem a seqüência das fotos originais tiradas naquela manifestação (partida do Exército Vermelho para a frente polonesa, em 1920) sabem perfeitamente que Trotsky e Kamenev não subiram no palanque, e foram flagrados ao pé da escada, de costas para Lenin, enquanto ele discursava (conforme se vê acima).

Raspá-los da foto, portanto, em nada altera o fato de que ambos não estavam ao lado de Lenin, em 1920, e de que, na realidade, o detestavam, se opunham e tramavam sistematicamente contra ele.

"Veja", com sua conversa fiada sobre "manipulação", procura induzir o leitor a crer exatamente no oposto.

Em julho de 1917, quando o governo Kerenski pôs os bolcheviques na ilegalidade e expediu mandatos de prisão contra seus líderes, Trotsky defendera que Lenin se entregasse. Em outubro de 1917, Kamenev denunciara à polícia a data da insurreição, com o intuito de abortá-la. Em 1918, Trotsky se associara a Bukhárin e aos socialistas-revolucionários para "prender" Lenin, Stalin e Sverdlov, e promover um golpe de Estado.

"E se Vladimir Ilich não se rendesse?" - foi a pergunta do promotor a Bukhárin, na sessão noturna dos julgamentos de Moscou, de 5 de março de 1938.

"Mas Lenin, como o senhor sabe, não lutava à mão armada, não era um brigão", foi a cínica resposta.

E esse o tipo de gente que "Veja" pretende fazer passar por inocentes vítimas da "tirania stalinista".

Ao darem as costas ostensivamente a Lenin, Trotsky e Kamenev estavam poluindo, mais até por sua atitude que pela sua presença, uma das raras fotos históricas nas quais o fundador do estado soviético aparece falando diretamente às massas.

Editar a foto, neste caso, não é "manipulação", porque não implica na inversão da realidade e sim na tentativa de expressar o seu conteúdo de modo mais fiel.

É um recurso de edição que, como todo recurso deste teor, deve ser empregado com prudência, sabedoria e parcimônia.

E é inteiramente ridículo pretender associá-lo ao "período stalinista". Gritaria à parte, mesmo os mais compulsivos detratores de Stalin não conseguem apresentar mais que meia dúzia de casos, entre verdadeiros e falsos, onde tal recurso tenha sido utilizado ao longo dos 30 anos em que ele ocupou a secretaria-geral do PCUS. Aliás, Stalin só pôde vencer as incontáveis batalhas que travou em vida, só pôde desmascarar as legiões de inimigos declarados da URSS, e a quinta-coluna que nas sombras agia a seu serviço, por não temer e não se desviar da verdade.

"Manipulação" é  o que faz a "Veja" ao pegar uma foto do líder do MST, João Pedro Stédile, e alterar a sua fisionomia no photoshop, dando a ela características sinistras, para depois usar a foto modificada, como se fora real, na capa da publicação.

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